A beleza da plenitude do ser...
Querido diário,
Outro dia, vi um quadrinho (cujo autor desconheço) que mexeu comigo. Um prédio com uma placa no alto dizia: Salão de Beleza Interior. Dentro, pessoas circulavam entre arte, teatro, livros, música, cinema… Fiquei olhando aquilo e pensando em como escolhemos gastar nossa energia e nosso tempo. Nosso tempo, que já é tão curto!
Se olharmos ao redor, quantas horas do dia são investidas em pele perfeita, cabelo impecável, em corpo dentro de padrões? Quantos minutos escorrem entre filtros, espelhos e uma eterna busca por uma imagem que nunca será definitiva?
O mundo nos treina para isso. Desde pequenos, aprendemos a nos encaixar em moldes, a buscar aceitação pelos olhos dos outros. A escola nos ensina a somar números, mas não a somar sentido à vida. Aprendemos a dividir sentenças, mas não a dividir nossas angústias sem medo de julgamento. Crescemos num sistema que valoriza o que se pode medir, pesar, vender. Mas o que fazemos com aquilo que não cabe em números? O que fazemos com o que sentimos?
O tempo que gastamos tentando parecer melhores poderia ser o tempo que investimos em ser melhores. Isso não significa abandonar o cuidado com o corpo – ele é nosso templo. Mas será que nos lembramos de cuidar também do que não se vê? Daquilo que não aparece no reflexo, mas que sentimos no silêncio?
A maturidade me ensinou que, se nossa felicidade estiver atrelada apenas à aparência física, a corrida será eterna – e perdida. O tempo avança para todos, e a juventude que se tenta segurar entre cremes e procedimentos sempre escorrerá por entre os dedos. Mas se investirmos no que nos constrói por dentro, levamos algo que ninguém pode tirar: consciência, evolução, histórias que resistem ao tempo!
Vivemos uma pandemia, atravessamos perdas, medos, transformações. E se estamos aqui hoje, é porque temos algo, ainda, por fazer. A idade não deveria ser vista como um fardo, mas como uma conquista. Cada ruga, cada marca na pele, é um verso da nossa história.
Então, como equilibrar tudo isso? Como se cuidar sem se perder? Talvez a resposta esteja naquele quadrinho. Na arte que nos faz sentir, nos livros que nos fazem pensar, na música que nos conecta ao invisível, naquele filme que nos transporta para outras vidas e nos permite vivermos como se fôssemos outros personagens, no momento de oração e meditação que expande nosso autoconhecimento e nossa compreensão do cosmos. E também... no artesanato, que nos ensina a valorizar o tempo, a criar com as mãos. No fio que entrelaçamos, na tinta que espalhamos sobre o papel, no papel que cortamos e transformamos em diário. E nos registros que fazemos nesses diários!
Esses momentos de epifania e criação são gestos de beleza e de consciência que nos levam ao resgate do ritmo natural da vida. Passamos a entender que nem tudo precisa ser imediato, que podemos construir aos poucos, que o verdadeiro valor das coisas está na história que carregam e não apenas na embalagem que as reveste (tal como a relação entre nosso corpo e nossa consciência). A vida é breve, sim. Mas se soubermos onde colocar nosso tempo e nossa energia, ela será intensa!
Com carinho,
Regina Souza da EncaderNós.
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